Spencer Krug tinha comprado um piano para manter a sanidade na escuridão da Finlândia, durante as gravações do anterior disco Heartbraking Bravery, e para se reencontrar com um instrumento que tinha colocado de lado, após uma década a tocar em bandas rock (Wolf Parade, Sunset Rubdown, Swan Lake, Frog Eyes, Fifths of Seven, Moonface, etc). Mas essa compra acabaria por resultar em algo mais do que um simples passatempo: resultaria numa obra intimista redentora e num dos melhores exercícios musicais de 2013.
Simples e belo (sem as máquinas electrónicas dos anteriores trabalhos e sem ajudantes como os finlandeses Siinai), só duas mãos e uma voz, criando efeito e impacto pelo movimento e não pelo volume, Julia With Blues Jeans On é um disco romântico como há muito já não se ouvia. Com a voz mais distinta do que nos álbuns passados, todo o véu de mistério que cobre as palavras de Spencer Krug se dissipa, deixando apenas o calor sentimental a abraçar o seu ouvinte.
Mesmo com referências bíblicas e insatisfações existenciais, o centro das atenções do disco é o amor, personalizado numa pessoa, cujo nome é mais importante de referir de que o nome do próprio Deus: “I’d say the only name worth singing is not God, it is you, Julia”.
A aceitação, o desespero, a compaixão são outros temas de Julia With Blue Jeans On, tal como a vulnerabilidade, patente no bem intitulado e bastante instrumental tema Dreamy Summer (“There’s no reason I should feel like dying, but you’re the reason I’m here and alive, either way”). E desta vulnerabilidade advém a pureza e intensidade do álbum, que com tão pouco (sendo minimalista, com um teclar pluvial do piano) consegue dizer tanto.
Trabalhar sozinho leva a um amento da agonia e da insanidade, mas Julia With Blue Jeans On consegue ser o disco mais optimista de Moonface, como que Spencer Krug conseguisse dialogar com um versão mais nova dele próprio, ainda ingénua e crente nas possibilidades do futuro.
Ao minimizar os meios, o encontro com as emoções sai ainda mais directo. Talvez resida aí a explicação da génese da pureza e da naturalidade do álbum. Se há disco que consegue explanar um estado de espírito e o bailar de uma alma, ele é Julia With Blue Jeans On. | João Moura
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